estupidologia

Estupidologia s. f. - Ciência que estuda a auto-repressão voluntaria da razão e dos sentimentos; interesse pragmatico-investigativo pelos non-sense da vida em colectividade; teoria matemática que defende existir uma relação de proporção directa entre a sensação de felicidade e a acção de mecanismos primários do homem; designação do maior, mais antigo e poderoso lobbie do mundo; empresa familiar de farturas; nome de um blog

quarta-feira

Tralalá: vou ali buscar um litro de leite

Toda a gente sabe que ir ao Pingo Doce e ir à FNAC são experiências de compra semelhantes. "Igualzinho”, dizem vocês com aquele revirar de olhos enfadado de quem conhece a pirâmide de Maslow e é sobejo connaisseur do paralelismo que há entre uma caixa de lombinhos de pescada e um leitor de DVD.

Por isso, a FNAC, na sua infinita missão de proteger o ambiente, retirou os sacos grandes. E porquê? Porque os sacos grandes poluem (não é brilhante?). Mas podem suspirar de alívio porque a FNAC não vos ia deixar levar as coisinhas com um certo volume na mão. Por um apenas um eurinho, podem transportar o vosso recém-adquirido item num espectacular saco reutilizável.

Agora – ufa, até que enfim – o saco pode andar sempre, sempre, sempre, sempre, sempre consigo. Amarfanhado nas calças, dobrado na mala, enrolado na pochete, ei-lo sempre pronto - cucu - para as suas compras do dia-a-dia na FNAC. O seu leitor de DVD. As suas colunas. Os seus vinis. O seu home cinema. Enfim, coisas-que-de-repente-faz-falta.

Saco reutilizável sim, mas atenção que é só se quiser, ã?: a FNAC não obriga. Se não quiser levar por um euro, não faz mal. Repare. Sem problema. Oiça. Sem obstáculos.

Se preferir andar com o seu home-cinema fresquinho debaixo do braço e sentir os olhares na rua ora inquiridores, ora invejosos, ora fascinados das pessoas com o seu item sem saco, num contexto de crise mundial e com expectativa clara de subida dos indexantes dos créditos à habitação, com tanto desemprego, o FMI e a vontade que por aí anda de ter home cinemas, tudo bem, é lá consigo. Repare. Esteja à vontade.

terça-feira

Música infantil do dia


Quem tem me-do do FMI?,
Do FMI?,
Do FMI?.

Quem tem me-do do FMI?
Trá. Lá. Lá. Lá. Lá.




 

 

quinta-feira

Pedido


Preciso que me prometam uma coisa, está bem?

Senhoras, até podem prescindir do vosso vestido brilhante, do vosso salto alto.
Senhores, até podem abdicar do vosso conjunto calça-colete e da vossa camisa premium.
Senhoras e senhores, até podem por de lado o champanhe.

Agora, uma coisa não pode faltar naquele dia em que vocês forem  famosos a ponto de mostrarem o glamour da vossa casa e aparecerem em poses espontâneas nas revistas.

A almofada Caras – Seat.

Combinado? Ficamos assim então.




terça-feira

Zé Dias e a Crise

O discurso alinhado

O Governo tem a sua. É um fenómeno internacional. Os Bancos têm a sua. Os portugueses devem poupar. O Pingo Doce tem a sua. O aumento do IVA é zero. E o Zé Dias? Uma posição oficial.


Pessoal:

Ponto 1. Querem tirar-nos o quentinho. Ai como era bom estarmos sossegadinhos a fazer nossa vidinha normal - aquelas coisa que todos nós fazemos: a comprar prendas de Natal, para aquele parente afastado que nos diz tanto - porque depois parece mal -, a preparar o reveillon fora - porque gostamos de dançar o Mamãe eu Quero em comboiinho no casino -, a fazer contas para comprar já um carrinho novo - para evitar o aumento do IVA -, a mudar a mobília e os electrodomésticos - que já têm para cima de quase dois anos.

Ponto 2. Estamos perplexos com tanta barreira. Agora, não sabemos por que é que é tanta complicação e tanta coisa por causa de quatro ou cinco cartões de crédito.

Ponto 3. Se agora não nos deixam, a culpa é lá deles. Dos bancos, das agências do rei, do reiki da república ou lá o que é. E mais. Não nos venham cá dizer que os nossos salários se devem principalmente à nossa acomodação. “À nossa acomodação quando nos baldavamos à escola”, dizem eles. “À nossa acomodação quando enchiamos o canelado das suéte chârte com auxiliares de memória”, dizem eles. Será que eles não percebem? O nosso esforço para melhorar a nossa qualidade de vida passa em grande parte pelo acesso ao maravilhoso mundo das compras.

Ponto 4. Esforçarmo-nos muito para melhorar a nossa vida. Quanto é que acham que pagamos todos os meses em cartões de crédito? Esses outros que falam muito caro, que apesar de se terem esforçado para ter formação superior, temos peninha que tenham apostado no curso errado ou que não tenham saídas. Façam como nós. Culpem os outros. Os políticos. Os donos das empresas. Os bancos. As agências do rei. A senhora da limpeza. O reiki da república. E deixem-se estar.

Ponto 5. Temos sentimentos incertos pelos bancos. Por um lado, são os maiores porque me passam uma pipa de massa para a mão, o que me proporciona coisas. Proporcionam-nos casas, proporcionam-nos férias, proporcionam-nos todo um eu sei lá de GPS, proporcionam telemóveis, computadores. Sobrevivência, vá. Por outro, são uns sacanas porque agora estão a armar-se em parvos, não emprestam e passam a vida a culpar as agências do rei e as flutuações disto e daquilo.

Ponto 6. Isso a nós não nos interessa.


Ponto 7. O respeitinho é muito bonito e nós gostamos de uma boa casinha. Já que vamos ter que pedir empréstimos, pedimos sempre o máximo. Chamem-nos parvos. Por exemplo, precisamos, vá, de uma casa ou assim. Se temos rendimento, logo, desemmerdem-se.

Ponto 8. Os cartões de crédito são uma conquista civilizacional. Antes da crise, se poupássemos uma percentagem do ordenado, só conseguíamos dali a muitos anos. Hoje só conseguimos em imensos ou em bastantes. Não pode ser. Queremos voltar a pedir empréstimos como deve ser.

Ponto 9. Eis o caminho. Se queremos dinheirinho temos três hipóteses. Ou fazemos alguma coisa para melhorar o nosso rendimento (dá muito trabalho). Ou procuravamos um carro mais barato e mais fraquinho (causa-me transtorno). Ou pedimos um empréstimo. Sempre o mais possível.

Ponto 10. Somos bons gestores das nossas finanças: merecemos celebrar. Crise: quem será o pai da criança? Eu sei lá. Seja como for, façamos um voto para 2011: assobiar muito e alto. Eles dizem que há crise mas não estamos a ouvir. Por isso, vá, todos a dançar o Mamãe eu Quero em comboiinho.
Com tecnologia do Blogger.

Seguidores